terça-feira, março 30, 2010

"O Coisinha Tão Bonitinha Do Pai..."

Em praticamente 20 anos envolvido com trabalhos ligados à comunicação eu já fotografei e escrevi  sobre algumas das minhas bandas de rock favoritas, nacionais e internacionais. Entrevistei os jogadores da Copa de 70, Jairzinho Furacão e Dada Maravilha, fotografei Xuxa, Romário, Ronaldinho, Seleção Brasileira de Vôlei, times de futebol, personalidades do jornalismo, da publicidade, da política, da cultura e do que eu chamo de anti-cultura brasileira (Mulher Maçã). Enfim, figuras que ao longo da minha vida me influenciaram no que poderia ser ou não ser!
Contudo, o post que segue é sobre a maior dessas influencias, ou seja, o meu pai, Severino dos Ramos Meneses, que estaria completando hoje 62 anos, mas que faleceu há exato um ano e quatro meses, em 30/11/2008.
Esse post era para ter sido publicado no dia que ele faleceu, mas o fato é que na ocasião resolvi me poupar, e depois os dias foram passando e por vários motivos tive que adiar a publicação deste, embora muito do conteúdo do texto que segue já vem sendo escrito a mais de um ano.
A continuação dessa história já está escrita e sua finalização fica pronta em alguns dias quando espero publicar tudo.
Comentários são bem vindos, mas, e se for comentar não o faça apenas para fazer média.

O inicio...
No ano de 1948, na beira de rio em João Pessoa/PB, minha avô lavava roupas quando um dos seus filhos em tom assustado dizia:“Manmãn Til”, “Manmãn Til”… Minha vô sem entender o que acontecia olhou para o lado e viu o que se passava. Era meu pai, na época com apenas alguns meses de vida, ainda nem andava, mas já ficava sentado e tinha se desequilibrado caindo com o rosto no rio e se afogava. Tal fato rendeu ao meu pai o eterno apelido de “Til”! Poucos os chamavam de Severino e só alguns, em especial em Sergipe, o chamavam de MeneSes. (Meneses com “S”).

Mais ou menos oito anos depois meus avôs, e seus 8 filhos (incluindo meu pai), vieram morar no Rio. Pelo o que ouvir dizer a viagem entre João Pessoa e Rio durou 8 dias de ônibus e têm gente que reclama das estradas ruins ou do atraso num vôo!

No inicio residiam na Nova Brasília, no Complexo do Alemão, e logo todos trabalhavam, meu pai foi engraxate e ajudante de marceneiro, até ir ao exército em 1967. Mudara-se para o bairro de Marechal Hermes onde alguns ainda moram. Mal. Hermes era um “grande pasto”, em meio a prédios históricos como o Hosp. Carlos Chagas, Teatro Armando Gonzaga e as Escolas Santos Dumont e Evangelina, mas não existiam tantas casas como hoje.

Pouco tempo depois, mas já na ditadura militar, meu pai voltava do trabalho fazendo a mesma rotina que acontecia desde que chegou ao bairro (mais ou menos um mês), ou seja, desceu na estação de trem e caminhou em linha reta cruzando esse “grande pasto” até os fundos da casa dos meus avós. O que meu pai não sabia era qual parte do “pasto” era público ou militar, o que era terreno baldio ou o que era quartel, para ele tudo deveria ser Brasil, enquanto para os milicos o Brasil era todo a área de segurança nacional.

Numa dessas meu pai foi rendido e levado para interrogatório. Nada longo como foi com outros “companheiros”, mas o suficiente para os “heróis” do quartel local (DCI) mostrarem serviço para eles mesmo.
Hoje gostaria de pesquisar os arquivos da DCI e saber o que foi produzido de relatórios aquela noite, mas a Ditadura do Brasil ainda não acabou e a censura aos arquivos existe diferente de alguns paises onde qualquer pessoa do mundo pode pesquisar sobre a ditadura local, como no Paraguai.
Meu pai contou que mesmo com documentos em dia e estando perto de casa, não evitou que os “heróis” fizessem as mesmas perguntas por horas e em salas diferentes. Ninguém não entendia porque meu pai cortava caminho pelo quartel. Ressalto que não tinha identificação de que o “pasto” era área militar.

Acho que nessa época meu pai já trabalhava na Papelaria Casa Mattos, no Centro/RJ, loja que literalmente influenciou diretamente minha existência, já que vários dos meus parentes trabalharam lá. O último foi meu primo Wagner. Porém, a pessoa mais importante além do meu pai foi minha mãe que foi trabalhar na Casa Mattos e conheceu meu pai. Por conta disso quando eu voltei ao Rio em 1991 queria trabalhar na Casa Mattos, só que a empresa já não estava forte como antes e as pessoas que poderiam me empregar já não era da “casa”, e não dei continuidade a essa influente tradição familiar!

Gingando por fora...
Num período entre os anos 60 e 70, meu pai foi professor de Capoeira em uma academia, e se estou certo se situava no bairro de Cavalcante na Zona Norte do Rio. A academia se chamava “Filhos de Itapoã” e era sociedade com seu grande amigo e também meu padrinho Valdemar. Esse grupo de capoeiristas chegou a fazer história no Rio de Janeiro tendo como alguns dos principais momentos, matérias para a lendária Revista O Cruzeiro e exibição em festa na casa do ator Paulo Gracindo.

A academia acabou restando o sonho do meu pai e do meu padrinho de que eu e o filho do meu padrinho um dia reabríssemos essa academia. Porém, nem eu e nem o meu primo nos tornamos mestres em capoeira, embora tanto eu como meu primo tenhamos treinado capoeira em algum período das nossas vidas.
Os anos foram passando, e em algum dia dos anos de 1980 meu pai recebeu a noticia que o meu padrinho havia falecido. Lembro do meu pai indo ao velório/enterro usando um óculos escuro típico do final dos anos 70 e início dos anos 80 na companhia da minha mãe, enquanto eu fiquei com a minha avó (materna) e de uma tia no bairro da Vila da Penha/RJ.

Os anos 80...
Depois da Casa Mattos meu pai trabalhou na Castrol do Brasil, no bairro de Inhaúma também no Complexo do Alemão. Já minha mãe trabalhou na Loja Mesbla do Passeio (onde hoje é as Lojas Americanas) e só saiu alguns dias antes do meu nascimento em 1974.

Segundo meu pai, a Castrol do Brasil foi o melhor emprego dele e foi lá que ele viu de perto uma das figuras políticas mais importantes do mundo, o Príncipe Charles! Sim, o Príncipe Charles já entrou no Complexo do Alemão* em visita a empresa em 1978, antes de casar com Lady Di.
Meu pai contou que todos na Castrol foram treinados a não fazer nada além do que foram orientados, mesmo assim no momento em que o príncipe entrava no carro para se retirar da Castrol, e com todos os funcionários enfileirados lado à lado, um dos que trabalhava lá que se encontrava perto do carro do príncipe resolveu mostrar toda a hospitalidade brasileira ou toda gentileza carioca e foi abrir a porta do carro para o príncipe. Os seguranças do príncipe mostraram toda técnica inglesa de descrição na hora de aplicar uma cotovelada. Foi uma pancada tão discreta que o colega do meu pai nem gritou de dor, afinal sua dor também foi discreta. Apenas meu pai e algumas pessoas próximas ao carro notaram a porrada.

Meses depois meu pai foi despedido da Castrol, morávamos em Vicente de Carvalho (zona norte/RJ) e minha a vó materna passava férias aqui no Rio o que facilitava o contato com a família sergipana, surgiu proposta de emprego e de casa por lá.
Mudamos para Sergipe em 11/10/80 e ao partimos da Rodoviária Novo Rio meu pai discretamente derramava algumas lágrimas. Perguntei se ele chorava, ele disse que não. A viagem durou 32 horas e na tarde de 12/10/1980 chegamos a Aracaju e ao inicio de uma nova história. No mesmo dia conhecemos Cíntia Carla a nova afilhada dos meus pais!

* por conta disso aquele lugar deveria se chamar Complexo do Inglês!

A História Continua...

Namastê
Michael Meneses! - Parayba Records!