terça-feira, abril 13, 2010

"O Coisinha Tão Bonitinha Do Pai... Parte - 2"

Não demorou muito...
...e meu pai foi trabalhar em empresas do interior, depois de alguns meses morando nos bairros do Sto. Antonio e na praia 13 de Julho compramos uma casa no Conj. Sta Tereza.

Em 1983...
Meus pais resolveram reformar a casa e alugamos outra na mesma rua. Nesse período o Brasil vivia o auge das demissões e meu pai foi demitido outra vez. Meu pai foi trabalhar como garçom em restaurantes da antiga orla de Aracaju e num barzinho do bairro. Teoricamente tais ambientes não eram boas opções de trabalho para ele, pois o meu pai foi alcoólatra durante anos, mesmo assim ele foi garçom até 1987 quando voltou ao Rio de Janeiro, e passou a trabalhar como porteiro de prédio, frentista de posto de gasolina e por último em deposito de bebidas.

No inicio de 1987 a obra da casa foi finalizada e em Março/1987 ele me viu ouvindo rock pela primeira vez, era algum som do Slayer, do álbum Show no Mercy, ou do Iron Maiden do disco Powerslave, sei disso, pois uma BASF60m era o única K7 que tinha de rock na época. Meu pai opinou sobre o som: “Que mau gosto!” Nunca me impediu que ouvisse rock ou foi contrário às minhas atitudes rocks, salvo quando cortei o cabelo punk em jul/1987, com ele já morando no Rio e recebeu a noticia por tel.

1987 - Skate, Rock and Roll e Liberdade...
Os adultos sempre colocaram em minha cabeça que um pai é sempre mais rude que uma mãe, e isso me causava medo, contudo meu pai só me deu duas surras: ambas nos anos 80. Uma por ter secado o pneu do carro do vizinho e outra por levar minha bicicleta dentro de um ônibus de um bairro a outro de Aracaju (do Sta. Tereza ao Sto. Antonio) deixando geral preocupado. Essas poucas palmadas me ajudaram a desmistificar o pensamento, porém nunca fez com que não tivesse respeito por ele.

Em meados de 1987 meu pai voltou ao Rio, tal retorno me fez acreditar que naquele momento eu poderia ser livre e fazer tudo o que o tal medo não me deixava fazer com ele por perto. Nunca quis ser “Mais do Mesmo” e isso sempre me colocou em uma posição de ser o “Do Contra” o que me torna um alvo para criticas em especial na Aracaju dos anos 80. Meus amigos não faltavam uma noite de Axé-dançante (que nojo) no Centro Social do Sta. Tereza, mas eu era do rock, meus amigos não perdiam uma pelada de futebol pelas ruas do bairro, mas mesmo que eventualmente jogasse uma bola, eu era do skate, isso numa época que o esporte estava começando a conquistar espaço em Sergipe e fazer minha família sergipana entender o skate não foi algo fácil, demorou, mas até convenci minha mãe a me comprar um skate novo, contudo fazer minha mãe e toda família relevar minha rebeldia rock and roll, as primeiras idéias anarquistas, o meu cabelo moicano, foi/é algo que ainda não consegui, apenas amenizei com o tempo, diferente do meu pai que sempre foi mais compreensivo.
Por fim com meu pai no RJ a cada merda ou não merda que eu fazia era um telefonema Aracaju X Rio (a Telegipe agradecia), afinal meu pai sempre ficava ciente das coisas que eu aprontava em Sergipe. Essa foi a forma que minha mãe encontrou pra me frear, pois mesmo há 2000km tinha o tal medo.

Em 1990 pedi para minha mãe para ir com os amigos do rock sergipano a Maceió assistir um festival underground local. Depois de muito barulho minha mãe ligou para meu pai que autorizou a viagem alegando que já estava grandinho pra viajar sozinho. Aliás, o show acabou cancelado e aconteceria no dia do meu aniversario de 16 anos. Dois meses depois a banda carioca Dorsal Atlântica foi tocar em Recife, eu “quase” que certo que minha mãe deixaria ir ao show comprei a passagem. Minha surpresa foi que ao tomar conhecimento da passagem minha mãe não me deixou ir, um novo telefonema resolveu tudo. Dessa vez o show aconteceu e passei um final de semana em Recife onde a Rodoviária foi a minha cama (à poucos metros dos mendigos), visitei o aeroporto sexta à noite, fui às lojas de discos de rock na manhã de sábado, a Praia de Boa Viagem foi só um rolé sem banho, já que tive febre na tarde de sábado, papei com e/ou sobre a cena rock nordestina e local (Pré-Mangue-Beat) e inclusive conversei com o músico Canibal que ficou conhecido pela banda Devotos (ou Devotos do Ódio), que naquele final de Set/90 ainda começava suas atividade e finalizando, migalhas de pães e um suco de maracujá pago pelo amigo Joãozinho foram as únicas alimentações nas minhas últimas 24hs em Pernambuco. Enquanto que minha mãe acreditava que eu estava hospedado na casa de um amigo sergipano cujo pai tinha recebido promoção do Banco do Brasil e foi para Recife, na época trabalhar no Banco do Brasil ou na Petrobras era um bom status.

Overdose...
Em 29 de dezembro de 1990 saí de Aracaju rumo ao Rock in Rio, com grande expectativa de não voltar a Sergipe. Queria o rock que só o Rio tinha a oferecer. Assim que cheguei ao RJ rumei pra Mal. Hermes num ônibus da linha 624 e já fui perguntando ao meu pai se o Maracanã era longe de Marechal, e ao saber o motivo da pergunta, e que já estava com ingresso para o Rock In Rio II, meu pai ficou preocupado, mas depois de uns dias caiu na real e assim se deu no dia 23/1/1991 o festival e voltei sem maiores problemas, porém, nem tudo naquela noite foram “Rosas”, também tiveram as “Armas”. O fato é que cheguei às 6:15 da manhã em casa e minutos antes da edição das 6:00 do informe O Globo no AR da Globo AM havia noticiado que um jovem de 16 anos que esteve “Na Noite de Heavy Metal do Rock in Rio 2” foi internado com overdose num hospital do Rio. O fato é que meu pai não sabia o que era overdose e já separava roupas para ir me reconhecer com overdose, só quando cheguei carretão é que ele foi saber o que era uma overdose.

Nessa época meu pai estava bebendo muito e num espaço muito curto de tempo várias pessoas morreram por conta de excessos com bebidas no bairro, o que fez com que alguns comentassem que já estavam apostando que meu pai seria o próximo da fila. Porém, o tempo passou e isso não aconteceu e o que foi visto foi que alguns dos apostadores furaram a fila.

Por volta do carnaval de 1991 comecei a trabalhar com meu pai no antigo depósito de bebidas do meu tio, raramente ele bebia lá, mas bebia constantemente durante o expediente nos bares onde entregávamos bebidas.

De tempos em tempos, meu pai ficava sem trabalhar, era um castigo por beber e também para se desintoxicar. Os primeiros dias era um terror com meu pai delirando, vendo cois e conversando com os delírios, eu ficava mal com o que presenciava, e que não era a primeira vez...
Em 1985, em Aracaju, meu pai sofreu um acidente e por conta de um antibiótico muito forte que lhe foi receitado, jurou que uma mulher foi a casa na época com a obra em atraso comunicar que minha mãe havia falecido. Ele só lembrava da mulher trajando vermelho, mas não do rosto dela. Os vizinhos contaram que meu pai amanheceu chorando feito criança na calçada de casa, onde ele estava morando por conta da obra, enquanto eu, minha mãe e minha irmã estávamos na casa da minha vó. Meu pai avisou aos vizinhos, no trabalho e foi para casa da minha vó com uns amigos, enquanto os vizinhos e amigos já se arrumavam para o enterro da minha mãe. Quando meu pai chegou de táxi gritando com minha mãe que dava mamadeira pra minha irmã, ninguém entendeu até que o taxista explicou o que estava acontecendo.

No ano de 1995 meu pai parou de beber e só em poucas ocasiões teve alguma recaída, mas nada comparado aos anos anteriores. O fato é que meu pai já não aquentava beber, o corpo já não agüentava qualquer dose de pinga.

A História Continua...

Namastê!
Michael Meneses! - Parayba Records!